segunda-feira, 11 de abril de 2011

FÁBULA

- Você já ouviu falar em contos e fábulas?
- Já leu algum deles?
- Lembra das características?
- Que tipo de texto é o conto e a fábula?

As narrativas ficcionais sempre seduziram leitores de todas as épocas e lugares. No mundo contemporâneo, muitos leitores apreciam as narrativas curtas, que focalizam um único conflito e apresentam a sua solução em um breve espaço de tempo. Essas narrativas são conhecidas como CONTOS.

A FÁBULA é um gênero narrativo ficcional bastante popular e existe há mais ou menos 2800 anos, Embora muito antigas, continuam a ser contadas e lidas, porque ensinam, alertam sobre algo que pode acontecer na vida real, criticam comportamentos humanos, ironizam os homens. 


ELEMENTOS DA NARRATIVA

P= PERSONAGENS
E= ESPAÇO
N= NARRADOR
T= TEMPO
E= ENREDO

Agora, vamos ler os próximos textos e identificar o PENTE neles:


Irmãos – Luiz Fernando Veríssimo

_ De vez em quando eu penso neles... 
_ Quem? 
_ Nos espermatozoides... 
_ De vez em quando você pensa em seus espermatozoides? 
_ Nos meus, não. Nos do meu pai. 
_ Você está bêbado. 
_ Na noite em que fui concebido... suponho que tenha sido uma noite... eu era um entre milhões de espermatozoides. Mas só eu cheguei ao óvulo da mamãe. Ou seria bilhões? 
_ Acho que é óvulo mesmo. 
_ Não. Os espermatozoides. São milhões ou bilhões? 
_ Ahn...Não sei. 
_ Não importa. Milhões, bilhões. Só eu me criei, entende? Por acaso. Isso é mais assombroso. A gratuidade da coisa. Havia milhões, bilhões de espermatozoides junto comigo e só eu, entende?, só eu fecundei o óvulo. Não é assombroso? 
_ É. 
_ Você acha mesmo? 
_ Acho. 
_ Podia ser qualquer um, mas fui eu. Por acaso. 
_ Amendoim? 
_ Hein? Obrigado. Agora, me diga. Por que eu? A gratuidade da coisa. Só eu fecundei o óvulo, virei feto, nasci, me criei e estou aqui, neste bar, de gravata, bebendo. Agora me diga, o que é isso? 
_ É como você diz. A gratuidade da coisa. 
_ Não, não. Isso que estou bebendo. 
_ É, ahn, uísque. 
_ Uísque. Pois então. Aí está. 
_ Ó Moacyr, vê outro aqui. O rapaz está precisando. 
_ Um brinde! 
_ Um brinde. 
_ A eles! 
_ Quem? 
_ Aos espermatozoides que não chegaram ao óvulo da mamãe. Aos companheiros. Aos bravos que cumpriram sua missão e não vieram para comemorar. Aos que perderam a viagem. Aos meus irmãos! 
_ Aos meus irmãos! 
_ Meus irmãos. Você não estava lá. 
_ Aos seus irmãos! 
_ Aos milhões, bilhões que se sacrificaram para que eu pudesse viver. 
_ Salve. 
_ Agora me diga uma coisa. 
_ Duas. Digo duas. 
_ Cada espermatozoide é uma pessoa diferente, certo? Quer dizer. Em outras palavras. Se outro espermatozoide tivesse completado a viagem, não seria eu aqui. Ou seria? 
_ Depende. 
_ Não seria. Seria outra pessoa. Outro nariz, outras ideias. Talvez até torcesse pelo América. Uma mulher! Podia ser uma mulher. Certo? 
_ Não vamos exagerar... 
_ Então, imagina o seguinte. Pense bem. Amendoim. 
_ Amendoim. Estou pensando nele. Amendoim. 
_ Não. Me passe o amendoim e pense no seguinte. Se entre os espermatozoides que me acompanharam, e que não chegara ao óvulo, estava o cara que ia descobrir a cura do câncer? Hein? Hein? 
_ Certo. 
_ Mas, em vez dele, eu é que cheguei. Por acaso. Ou podia ser uma mulher. Uma soprano de fama internacional. Em vez disso, deu eu. Veja a minha responsabilidade. 
_ Acho que você está sendo radical. 
_ Não. Imagine se em vez do espermatozoide que se transformou no Jânio Quadros, tivesse dado outro. A história do Brasil seria completamente diferente! É ou não é? 
_ Mais ou menos. 
_ Pois então. Eu me sinto culpado, entende? Acho que eu devia, sei lá. Ter feito mais da minha vida. Em honra a eles. Eu estou representando milhões, bilhões de espermatozoides, cada um uma pessoa em potencial. E o que é que eu fiz da minha vida? 
_ E se fosse um bandido? 
_ Como? 
_ Se, em vez de você, o espermatozoide que tivesse dado certo fosse um assassino, um mau-caráter. Não quero falar dos espermatozoides do seu pai, mas num grupo de milhões sempre tem uma ovelha estragada. Uma maçã negra. Estatisticamente. 
_ Você acha mesmo? 
_ Acho. 
_ Sei lá. 
_ E outra coisa. O que passou, passou. Não pense mais nisso. 
_ Mas eu penso. De vez em quando eu penso. Os meus irmãos que não nasceram. Que nomes eles teriam? Eduardo, Gilson, Amaury, Jéssica... 
_ Marco Antônio... 
_ Marco Antônio... Imagine, um deles podia ser o ponta-direita que o Brasil precisava em 74. Eu me sinto culpado. Você não se sente culpado?
_ Bom, eu tenho 11 irmãos. 
_ Aí é diferente. 
_ Por quê? 
_ Não sei. Só sei que entre milhões, bilhões de espermatozoides, todos com os mesmos direitos, só eu me criei. Por acaso. Agora me diga, o que é isso? 
_ É uísque. 
_ Não. É a gratuidade da coisa. 
_ Não sei... 
_ Você está bêbado.


A GANSA DOS OVOS DE OURO

Um homem e sua mulher tinham a sorte de possuir uma gansa que todo dia punha ovo de ouro. Mesmo com toda essa sorte, eles acharam que estavam enriquecendo muito devagar, que assim não dava. Imaginando que a gansa devia ser de ouro por dentro, resolveram matá-la e pegar aquela fortuna toda de uma vez. Só que, quando abriram a barriga da gansa, viram que por dentro ela era igualzinha a todas as outras. Foi assim que os dois não ficaram ricos de uma vez só, como tinham imaginado, nem puderam continuar recebendo o ovo de ouro que todos os dias aumentava um pouquinho sua fortuna.
Moral: Não tente forçar demais a sorte.

 (Fábulas de Esopo. Compilação de Russell Ash e Bernard Higton. Trad. Heloísa John. São Paulo: Companhia das letrinhas,1994,p.78.)

A estrutura da fábula tem servido a muitas versões e reescrituras, muitas delas com intenção humorística. A seguir, você vai ler a fábula de Millôr Fernandes, escritor e cartunista brasileiro contemporâneo.


A GALINHA DOS OVOS DE OURO

Era uma vez um homem que tinha uma Galinha. Subitamente, em dia inesperado, a Galinha pôs um ovo de ouro. Ouro! Outro dia, outro ovo. Outro ovo de ouro! O homem mal podia dormir. Esperava todas as manhãs pelo ovo de ouro – clara, gema, casca, tudo de ouro!- que o tirava da miséria aos poucos, e aos poucos o ia guindando ao milionarismo. O fato que, antigamente, poderia passar despercebido, na data de hoje atraía verdadeiras multidões. E não só multidões. Rádios, jornais, televisão, tudo entrevistava o homem, pedindo-lhe impressões, querendo saber detalhes de como acontecera o espantoso acontecimento. E a Galinha, também, ia dando aqui e ali seus shows diante dos jornais, câmaras, microfones. Certa vez até, num esforço de reportagem, conseguiu pôr um ovo diante da câmara da TV Tupi. Porém o tempo passou e muito antes que o homem conseguisse ficar rico, a Galinha deixou de botar ovos de ouro. Desesperado, o homem foi ocultando o fato, até que, certo dia, não se contendo mais abriu a galinha para apanhar os ovos que ela tivesse lá dentro. Para sua decepção não havia mais nenhum.
Então o homem – espírito moderno – resolveu explorar o nome que lhe ficara do acontecimento e abriu um enorme restaurante, com o sugestivo nome de Aos Ovos de Ouro. E isso lhe deu muito mais dinheiro do que a Galinha propriamente dita.

Moral: Cria galinha e deita-te no ninho. (Millôr Fernandes. Fábulas fabulosas.12.ed.Rio de Janeiro:Nórdica,1991.p.91-2.)

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