- Você já ouviu falar em contos e fábulas?
- Já leu algum deles?
- Lembra das características?
- Que tipo de texto é o conto e a fábula?
As narrativas ficcionais sempre seduziram leitores de todas as épocas e lugares. No mundo contemporâneo, muitos leitores apreciam as narrativas curtas, que focalizam um único conflito e apresentam a sua solução em um breve espaço de tempo. Essas narrativas são conhecidas como CONTOS.
A FÁBULA é um gênero narrativo ficcional bastante popular e existe há mais ou menos 2800 anos, Embora muito antigas, continuam a ser contadas e lidas, porque ensinam, alertam sobre algo que pode acontecer na vida real, criticam comportamentos humanos, ironizam os homens.
ELEMENTOS DA NARRATIVA
P= PERSONAGENS
E= ESPAÇO
N= NARRADOR
T= TEMPO
E= ENREDO
Agora, vamos ler os próximos textos e identificar o PENTE neles:
Irmãos – Luiz Fernando Veríssimo
_ De vez em quando eu penso neles...
_ Quem?
_ Nos espermatozoides...
_ De vez em quando você pensa em seus espermatozoides?
_ Nos meus, não. Nos do meu pai.
_ Você está bêbado.
_ Na noite em que fui concebido... suponho que tenha sido uma noite... eu era um entre milhões de espermatozoides. Mas só eu cheguei ao óvulo da mamãe. Ou seria bilhões?
_ Acho que é óvulo mesmo.
_ Não. Os espermatozoides. São milhões ou bilhões?
_ Ahn...Não sei.
_ Não importa. Milhões, bilhões. Só eu me criei, entende? Por acaso. Isso é mais assombroso. A gratuidade da coisa. Havia milhões, bilhões de espermatozoides junto comigo e só eu, entende?, só eu fecundei o óvulo. Não é assombroso?
_ É.
_ Você acha mesmo?
_ Acho.
_ Podia ser qualquer um, mas fui eu. Por acaso.
_ Amendoim?
_ Hein? Obrigado. Agora, me diga. Por que eu? A gratuidade da coisa. Só eu fecundei o óvulo, virei feto, nasci, me criei e estou aqui, neste bar, de gravata, bebendo. Agora me diga, o que é isso?
_ É como você diz. A gratuidade da coisa.
_ Não, não. Isso que estou bebendo.
_ É, ahn, uísque.
_ Uísque. Pois então. Aí está.
_ Ó Moacyr, vê outro aqui. O rapaz está precisando.
_ Um brinde!
_ Um brinde.
_ A eles!
_ Quem?
_ Aos espermatozoides que não chegaram ao óvulo da mamãe. Aos companheiros. Aos bravos que cumpriram sua missão e não vieram para comemorar. Aos que perderam a viagem. Aos meus irmãos!
_ Aos meus irmãos!
_ Meus irmãos. Você não estava lá.
_ Aos seus irmãos!
_ Aos milhões, bilhões que se sacrificaram para que eu pudesse viver.
_ Salve.
_ Agora me diga uma coisa.
_ Duas. Digo duas.
_ Cada espermatozoide é uma pessoa diferente, certo? Quer dizer. Em outras palavras. Se outro espermatozoide tivesse completado a viagem, não seria eu aqui. Ou seria?
_ Depende.
_ Não seria. Seria outra pessoa. Outro nariz, outras ideias. Talvez até torcesse pelo América. Uma mulher! Podia ser uma mulher. Certo?
_ Não vamos exagerar...
_ Então, imagina o seguinte. Pense bem. Amendoim.
_ Amendoim. Estou pensando nele. Amendoim.
_ Não. Me passe o amendoim e pense no seguinte. Se entre os espermatozoides que me acompanharam, e que não chegara ao óvulo, estava o cara que ia descobrir a cura do câncer? Hein? Hein?
_ Certo.
_ Mas, em vez dele, eu é que cheguei. Por acaso. Ou podia ser uma mulher. Uma soprano de fama internacional. Em vez disso, deu eu. Veja a minha responsabilidade.
_ Acho que você está sendo radical.
_ Não. Imagine se em vez do espermatozoide que se transformou no Jânio Quadros, tivesse dado outro. A história do Brasil seria completamente diferente! É ou não é?
_ Mais ou menos.
_ Pois então. Eu me sinto culpado, entende? Acho que eu devia, sei lá. Ter feito mais da minha vida. Em honra a eles. Eu estou representando milhões, bilhões de espermatozoides, cada um uma pessoa em potencial. E o que é que eu fiz da minha vida?
_ E se fosse um bandido?
_ Como?
_ Se, em vez de você, o espermatozoide que tivesse dado certo fosse um assassino, um mau-caráter. Não quero falar dos espermatozoides do seu pai, mas num grupo de milhões sempre tem uma ovelha estragada. Uma maçã negra. Estatisticamente.
_ Você acha mesmo?
_ Acho.
_ Sei lá.
_ E outra coisa. O que passou, passou. Não pense mais nisso.
_ Mas eu penso. De vez em quando eu penso. Os meus irmãos que não nasceram. Que nomes eles teriam? Eduardo, Gilson, Amaury, Jéssica...
_ Marco Antônio...
_ Marco Antônio... Imagine, um deles podia ser o ponta-direita que o Brasil precisava em 74. Eu me sinto culpado. Você não se sente culpado?
_ Bom, eu tenho 11 irmãos.
_ Aí é diferente.
_ Por quê?
_ Não sei. Só sei que entre milhões, bilhões de espermatozoides, todos com os mesmos direitos, só eu me criei. Por acaso. Agora me diga, o que é isso?
_ É uísque.
_ Não. É a gratuidade da coisa.
_ Não sei...
_ Você está bêbado.
_ Quem?
_ Nos espermatozoides...
_ De vez em quando você pensa em seus espermatozoides?
_ Nos meus, não. Nos do meu pai.
_ Você está bêbado.
_ Na noite em que fui concebido... suponho que tenha sido uma noite... eu era um entre milhões de espermatozoides. Mas só eu cheguei ao óvulo da mamãe. Ou seria bilhões?
_ Acho que é óvulo mesmo.
_ Não. Os espermatozoides. São milhões ou bilhões?
_ Ahn...Não sei.
_ Não importa. Milhões, bilhões. Só eu me criei, entende? Por acaso. Isso é mais assombroso. A gratuidade da coisa. Havia milhões, bilhões de espermatozoides junto comigo e só eu, entende?, só eu fecundei o óvulo. Não é assombroso?
_ É.
_ Você acha mesmo?
_ Acho.
_ Podia ser qualquer um, mas fui eu. Por acaso.
_ Amendoim?
_ Hein? Obrigado. Agora, me diga. Por que eu? A gratuidade da coisa. Só eu fecundei o óvulo, virei feto, nasci, me criei e estou aqui, neste bar, de gravata, bebendo. Agora me diga, o que é isso?
_ É como você diz. A gratuidade da coisa.
_ Não, não. Isso que estou bebendo.
_ É, ahn, uísque.
_ Uísque. Pois então. Aí está.
_ Ó Moacyr, vê outro aqui. O rapaz está precisando.
_ Um brinde!
_ Um brinde.
_ A eles!
_ Quem?
_ Aos espermatozoides que não chegaram ao óvulo da mamãe. Aos companheiros. Aos bravos que cumpriram sua missão e não vieram para comemorar. Aos que perderam a viagem. Aos meus irmãos!
_ Aos meus irmãos!
_ Meus irmãos. Você não estava lá.
_ Aos seus irmãos!
_ Aos milhões, bilhões que se sacrificaram para que eu pudesse viver.
_ Salve.
_ Agora me diga uma coisa.
_ Duas. Digo duas.
_ Cada espermatozoide é uma pessoa diferente, certo? Quer dizer. Em outras palavras. Se outro espermatozoide tivesse completado a viagem, não seria eu aqui. Ou seria?
_ Depende.
_ Não seria. Seria outra pessoa. Outro nariz, outras ideias. Talvez até torcesse pelo América. Uma mulher! Podia ser uma mulher. Certo?
_ Não vamos exagerar...
_ Então, imagina o seguinte. Pense bem. Amendoim.
_ Amendoim. Estou pensando nele. Amendoim.
_ Não. Me passe o amendoim e pense no seguinte. Se entre os espermatozoides que me acompanharam, e que não chegara ao óvulo, estava o cara que ia descobrir a cura do câncer? Hein? Hein?
_ Certo.
_ Mas, em vez dele, eu é que cheguei. Por acaso. Ou podia ser uma mulher. Uma soprano de fama internacional. Em vez disso, deu eu. Veja a minha responsabilidade.
_ Acho que você está sendo radical.
_ Não. Imagine se em vez do espermatozoide que se transformou no Jânio Quadros, tivesse dado outro. A história do Brasil seria completamente diferente! É ou não é?
_ Mais ou menos.
_ Pois então. Eu me sinto culpado, entende? Acho que eu devia, sei lá. Ter feito mais da minha vida. Em honra a eles. Eu estou representando milhões, bilhões de espermatozoides, cada um uma pessoa em potencial. E o que é que eu fiz da minha vida?
_ E se fosse um bandido?
_ Como?
_ Se, em vez de você, o espermatozoide que tivesse dado certo fosse um assassino, um mau-caráter. Não quero falar dos espermatozoides do seu pai, mas num grupo de milhões sempre tem uma ovelha estragada. Uma maçã negra. Estatisticamente.
_ Você acha mesmo?
_ Acho.
_ Sei lá.
_ E outra coisa. O que passou, passou. Não pense mais nisso.
_ Mas eu penso. De vez em quando eu penso. Os meus irmãos que não nasceram. Que nomes eles teriam? Eduardo, Gilson, Amaury, Jéssica...
_ Marco Antônio...
_ Marco Antônio... Imagine, um deles podia ser o ponta-direita que o Brasil precisava em 74. Eu me sinto culpado. Você não se sente culpado?
_ Bom, eu tenho 11 irmãos.
_ Aí é diferente.
_ Por quê?
_ Não sei. Só sei que entre milhões, bilhões de espermatozoides, todos com os mesmos direitos, só eu me criei. Por acaso. Agora me diga, o que é isso?
_ É uísque.
_ Não. É a gratuidade da coisa.
_ Não sei...
_ Você está bêbado.
A GANSA DOS OVOS DE OURO
Um homem e sua mulher tinham a sorte de possuir uma gansa que todo dia punha ovo de ouro. Mesmo com toda essa sorte, eles acharam que estavam enriquecendo muito devagar, que assim não dava. Imaginando que a gansa devia ser de ouro por dentro, resolveram matá-la e pegar aquela fortuna toda de uma vez. Só que, quando abriram a barriga da gansa, viram que por dentro ela era igualzinha a todas as outras. Foi assim que os dois não ficaram ricos de uma vez só, como tinham imaginado, nem puderam continuar recebendo o ovo de ouro que todos os dias aumentava um pouquinho sua fortuna.
Moral: Não tente forçar demais a sorte.
(Fábulas de Esopo. Compilação de Russell Ash e Bernard Higton. Trad. Heloísa John. São Paulo: Companhia das letrinhas,1994,p.78.)
A estrutura da fábula tem servido a muitas versões e reescrituras, muitas delas com intenção humorística. A seguir, você vai ler a fábula de Millôr Fernandes, escritor e cartunista brasileiro contemporâneo.
A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Era uma vez um homem que tinha uma Galinha. Subitamente, em dia inesperado, a Galinha pôs um ovo de ouro. Ouro! Outro dia, outro ovo. Outro ovo de ouro! O homem mal podia dormir. Esperava todas as manhãs pelo ovo de ouro – clara, gema, casca, tudo de ouro!- que o tirava da miséria aos poucos, e aos poucos o ia guindando ao milionarismo. O fato que, antigamente, poderia passar despercebido, na data de hoje atraía verdadeiras multidões. E não só multidões. Rádios, jornais, televisão, tudo entrevistava o homem, pedindo-lhe impressões, querendo saber detalhes de como acontecera o espantoso acontecimento. E a Galinha, também, ia dando aqui e ali seus shows diante dos jornais, câmaras, microfones. Certa vez até, num esforço de reportagem, conseguiu pôr um ovo diante da câmara da TV Tupi. Porém o tempo passou e muito antes que o homem conseguisse ficar rico, a Galinha deixou de botar ovos de ouro. Desesperado, o homem foi ocultando o fato, até que, certo dia, não se contendo mais abriu a galinha para apanhar os ovos que ela tivesse lá dentro. Para sua decepção não havia mais nenhum.
Então o homem – espírito moderno – resolveu explorar o nome que lhe ficara do acontecimento e abriu um enorme restaurante, com o sugestivo nome de Aos Ovos de Ouro. E isso lhe deu muito mais dinheiro do que a Galinha propriamente dita.
Moral: Cria galinha e deita-te no ninho. (Millôr Fernandes. Fábulas fabulosas.12.ed.Rio de Janeiro:Nórdica,1991.p.91-2.)
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